sexta-feira, 25 de fevereiro de 2011

Uma terra cruel e sem mocinhos

Por Ricardo Araujo


Poderia ser uma história de bangue-bangue passada no Oeste selvagem, mas é apenas futebol, e os personagens são muito mais selvagens.
Eu, assim como todo mundo, menos os programas esportivos da Globo, estou acompanhando impaciente a ameaça de esfacelamento do Clube dos 13. Ameaça porque na politicagem do futebol brasileiro, nada é definitivo. Os aliados de hoje são os inimigos de amanhã. No Brasil, tudo funciona ao contrário. Em todos os cantos do mundo, e em qualquer tempo, unir forças fortalece a todos. Aqui, os nossos gestores-cartolas acreditam no inverso. Quanto mais isolados melhor, acreditam eles. Melhor para a CBF. Melhor para a Globo, ainda monopolista dos direitos televisivos. Mas certamente pior para os clubes. Se o C13 é mau gerido, pouco transparente, ou pouco representativo dos interesses dos clubes, que seja reformulado. Mas implodir o conceito de união para melhor negociar seus interesses, é burrice, ou, numa linguagem gentil, miopia avançada. Numa leitura mais atenta dos acontecimentos, pesca-se aqui e acolá pequenas peças que vão se encaixando, e que ajudam a entender o que existe em meio à fumaça. Há poucos dias atrás, o diretor de marketing do Corinthians anunciou que iria postergar a negociação sobre os naming rights do futuro estadio, alertando que “se a Globo aceitar divulgar o nome do patrocinador, nós conseguiremos R$ 30 milhões anuais”. Hoje, 1 dia após o “manifesto” dos clubes cariocas explicando o afastamento do grupo das negociações entabuladas pelo C13, o Botafogo anuncia que efetivou um contrato de patrocínio para a publicidade interna e externa do estádio olímpico, e insinua a possibilidade de fechar um contrato de naming, mas que o anuncio oficial só depende do “ok” da detentora dos direitos televisivos.
Puxa, mas que coincidência !!! De repente, como num passe de mágica, o mercado de naming rights no Brasil se viabilizou.
Dizem que conseguiram convencer a Globo a anunciar graciosamente as marcas dos patrocinadores dos clubes “parceiros”. A Record já havia anunciado que toparia. Mas a Globo é a Globo, e parece apavorada e irritada com o modelo de licitação adotado pelo C13. Esse negócio de envelope fechado não agrada a ela. Envelope fechado é usado no mundo real das licitações, mas o mundo da Globo é irreal e monopolista. Ela não está acostumada a competir. A partir daí, juntou-se ao “Master of Puppets”, seu aliado de sempre, e imaginaram como dividir os clubes, adoçar a boca dos cartolas “parceiros” com alguns espelhos e miçangas, e implodir o processo licitatório que não lhe interessa. Afinal, é melhor perder alguns anéis do que os dedos, e talvez a mão.
Nossos cartolas, pouco informados que são, talvez desconheçam que a NHL, a liga profissional americana de hóquei, que há 2 anos passava por momentos financeiramente delicados, acaba de fechar um contrato de patrocinio master com uma cervejaria canadense, que lhes renderá US$ 375 milhões anuais, durante 7 anos. É isso mesmo. Mais de US$ 2 bilhões. Mercado americano à parte, a chave para o sucesso da negociação foi a consciência por parte das franquias, que união pétrea é fundamental para o sucesso. Por isso a liga deles é profissional e a nossa é amadora.
Mas o mais divertido de tudo isso, é ver o silêncio que os programas esportivos da Globo observam sobre o assunto. Na tal terra cruel e selvagem, os jornalistas esportivos da Globo foram os primeiros a cair baleados.

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